quarta-feira, 13 de abril de 2011

Uma Isabel em minha vida...

Pra quem nao sabe vim para os EUA e trabalho como baba, nanny, au pair, o que quiser chamar...
Confesso que antes de eu vir, me imaginava sempre cuidando de bebes ou criancinhas crescidinhas, loirinhas, bonitinhas, AMERICANINHAS!
Mas o destino me reservava algo muito maior e de uma grandeza que poucas pessoas podem compreender, a familia da Isabel me escolheu, e fiquei sabendo que iria cuidar de 3 gurias adolescentes: Susana (12 anos), Eva (14 anos) e Isabel (16 anos).

A Isa tem Sindrome de Down, antes de vir fiquei com bastante `medo` de como seria lidar com ela, pois como estudante de enfermagem tinha vivido algumas situacoes com pessoas especiais e conhecia minha imensa dificuldade de aproximacao.

No email que a Lisa, mae delas, me enviou dizia: a Isa tem mentalidade de uma menina de 5 anos, frequenta High School, nao sabe ler, pratica basquete, futebol, equitacao e e' lider de torcida na escola que estuda! Pensei: meu trabalho vai ser facil, vou praticamente so' dirigir o dia todo!

Quando cheguei na casa da minha familia americana, fui bem recebida pelas gurias, mas a Isa e' super anti social, timida, usa casacos com capus pra sair na rua, so' conversa com quem ela realmente tem intimidade, finge que nao ouve os estranhos falarem com ela, nao mantem contato olho no olho por muito tempo, e, tenho a sensacao que se ela pudesse se fechar na sala de televisao e ficar la, ela ficaria ate envelhecer. Era verao, ou seja, podia ir pra piscina todos os dias, parque, atividades que qualquer crianca adoraria... Quando eu chamava a Isa para ir a piscina era aquela birra: chorava, gritava comigo, mandava eu deixar ela em paz... Obvio: uma estranha morando na casa dela, querendo levar ela pra um lugar publico, cheio de criancas, tirando ela do ambiente preferido dela, ela tinha mais e' que me xingar.
Durante aproximadamente 1 mes ela agia assim comigo, mas todos os dias eu insistia e quando chegavamos la ela esquecia a birra, aproveitava o tempo e claro, nao entrava na piscina sem eu estar dentro da agua antes!
Fui pegando o jeito, aprendendo a ama-la, respeitando os limites dela, impondo os meus e quando vi ja estava totalmente "apaixonada". Descobri que tenho um lado pedagoga dentro de mim (acho que vem da minha dinda) comecei a ensinar ela a escrever o endereco, o nome completo, o nome dos pais, das irmas, o telefone de casa e algumas palavras basicas (casa, cachorro, gato, escola, etc), hoje, depois de uns 6 meses treinando as palavras, ela consegue escrever sozinha, me sinto muito orgulhosa!!!
Descobri tambem um lado materno, que eu ja sabia que tinha, mas que aflorou demais com a nossa convivencia, quando alguma crianca ri dela, ou quando ela me conta alguma briga que teve no colegio, tenho vontade de ir la e brigar com todo mundo pra defende-la, ao mesmo tempo tenho uma nitida sensacao que muitas vezes nao sou eu que estou cuidando dela, mas sim ela cuidando de mim... Sabe aqueles dias tristes, em que tudo aborrece, ou que a saudades de casa ta sufocante? Ela vem me abraca, me enxe de beijos, e fica no meu colo assistindo filme...
Por fim, descobri que minha dificuldade de aproximacao era um certo "pre-conceito" meu, que felizmente eu vou deixar aqui nos EUA junto com alguns outros...

Hoje, depois de 8 meses de dedicacao, todos os dias eu ouco:
* Quando ela esta indo pro colegio: "Xanda Ill miss you"
* Antes de ir dormir de noite: "Xanda, I wanna a Good Night Kiss"
* Quando digo que vou embora pro Brasil: "NO, you are my sister, stay here with me, mom and dad"
* Em todos os momentos: "Xanda, I love you"

Posso garantir que nao tem recompensa maior do que essa e terminando essa reflexao, pensando o quanto ela mudou minha vida, meus olhos se enchem de lagrimas... agora me diga: COMO VOU VIVER SEM ELA?

6 comentários:

  1. TEnho muito orgulho de saber que tu é a minha FILHA!

    ResponderExcluir
  2. Boba! Acabei de chorar lendo isso! É muito lindo Xanda! Descobrir sentimentos e capacidades, despertar para o mundo, conhecer outrar formas de vida, aprender a lidar com o outro sem pressupostos, é simplesmente MA-RA-VI-LHO-SO.
    Lindo saber que tu foste para tão longe aprender o melhor que a vida pode dar: amor e compreensão.
    Volta logo! A tua mãe tá cheia de saudades!
    Beijos!
    Aline Müzell

    ResponderExcluir
  3. Ana Consuelo Almeida14 de abril de 2011 às 05:58

    Como sinto orgulho de ti!
    Chorei ao ver que te tornaste uma pessoa melhor ainda...
    Que Isabel é feliz porque encontrou no seu caminho uma pessoa que vai fazer o mundo melhor para os outros também...
    Que a saudade era mais um egoísmo nosso...
    Que a minha contagem regressiva fica mais intensa na vontade de te abraçar e te dizer que TE AMO MUITO...
    E que um lado pedagógico pode estar VIVO em qualquer pessoa que tenha AMOR para dar!!
    Hoje faltam ... não sei, mas pouco!

    ResponderExcluir
  4. Xandeli, estou emocionada!!!Feliz de saber que nos reaproximamos como amigas nesse momento em que as duas moram fora do Brasil!! Compartilhando as nossas alegrias, as nossas mágoas, as nossas histórias e aventuras, e melhor o NOSSO CRESCIMENTO!!! Quero te ter sempre próxima de mim! Um beijão do morenão

    ResponderExcluir
  5. Juliano Gheller Boeira14 de abril de 2011 às 17:38

    A tua mãe me mandou comentar sobre o bagulho da flauta e do tambor e ela também mandou um beijo e um abraço.
    A joana qué que tu volte

    ResponderExcluir
  6. Nossa, vc devia ter como reação para este post chorar. Linda a relação que conseguiu estabelecer. Um exemplo viu.

    ResponderExcluir